terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O Dia D

D de decisivo, derradeiro. Correr contra o relógio para conseguirmos entregar tudo em dia nem sempre era o suficiente. Noites mal dormidas - às vezes nem dormidas - mau humor, stress. Com o desenvolvimento do nosso trabalho crescia também a ansiedade e o medo, que foram devidamente estabelecidos nos membros do grupo na segunda-feira (30/11), o primeiro dia de apresentações do Inter. Como seriam dois dias de apresentações (30/11 e 04/12) e os grupos seriam sorteados entre as duas datas, nosso grupo desejava ser sorteado logo na segunda-feira para se livrar desse peso. Particularmente, eu achei melhor nosso grupo sobrar pro segundo dia, pois estávamos completamente despreparados e nervosos. A cada grupo sorteado que se apresentava à frente da banca, arranjávamos mais motivos pelos quais nosso trabalho estava péssimo. Imaginávamos mil e uma possibilidades de contornar uma possível DP. Estávamos definitivamente consumidos pelo pessimismo: para a banca, não existia nenhum trabalho bom o suficiente, qualquer palavra fora de lugar, confundida, gaguejada, qualquer recurso aparentemente sem justificativa na apresentação era motivo de questionamentos que caíam pesando toneladas sobre as cabeças de nossos colegas. Isso nos deu vontade de mudar tudo, refazer as animações, montar um novo PDP, mas como a entrega das peças gráficas era na segunda-feira, independentemente do dia da apresentação do grupo, isso não seria possível. Aliás, a correria em cima da hora para imprimir as peças gráficas nos deu uma grande dor de cabeça, a única peça realmente bem impressa foi o pôster. Pecamos nisso, passamos o fim de semana consertando defeitos e ainda assim deixamos passar alguns deslizes que foram obviamente notados pela banca.

Na sexta-feira, eu e o Luiz Guilherme ficamos encarregados de defender o projeto, já que eu organizei a parte teórica e ele foi o responsável pelo conceito de criação do trabalho. Mesmo com uns dias a mais para ensaiarmos e com o escuro total na sala foi impossível controlar o nervosismo. Tentei me policiar para não me equivocar ou me contradizer e justamente por ficar medindo as palavras, elas não saíram tão naturalmente como eu ensaiara outrora. Falamos sobre o fotógrafo, suas técnicas e sua mensagem, aspectos que apesar de eu dominar devido às inúmeras pesquisas sobre, me atrapalhei na hora de expô-las à banca. Apresentamos a iconografia que levantamos, ou seja as cinco fotografias do livro Mario Cravo Neto: The Photographs que já foram expostas aqui, o nosso conceito de criação, a paleta de cores, os storyboards e, por fim, as animações que nos custaram noites de sono. Apresentamos também um resumo das pesquisas com o público que, por falta de tempo, não ficou grande o suficiente, mas que foi uma etapa importante no nosso trabalho. Já que as animações são subjetivas e passam uma mensagem não-literal, foi curioso observar as diferentes interpretações que as pessoas - da área do Design ou não - tinham de elementos como as flores, as bolhas ou o "vulto preto".

Depois da apresentação, era hora de ouvir os professores. Na banca estavam Helena Sordilli (orientadora do Inter), Cristine Bem e Canto (fotografia) e Claudio Gusmão (animação). Eles destacaram a importância da falta de meio-tons entre o preto e o branco na nossa identidade visual, pois isso reforçava a ideia de contraste tão presente nas fotos de Mario Cravo; elogiaram o efeito de retícula que empregamos em algumas imagens por assemelhar-se com a luz lateral que o fotógrafo utilizava em suas fotos de estúdio; encararam bem a subjetividade de nosso tema, interessaram-se pelas metáforas e ressaltaram o poder religioso que as animações expunham, sendo que os mesmos pediram anteriormente para focarmos mais na técnica do fotógrafo. No fim, conseguimos unir um pouco de suas técnicas ricas e suas metáforas poderosas - infelizmente, nem todos os professores entenderam, mas torcemos para que haja uma discussão saudável entre eles em relação a isso. Os maiores problemas foram a falta de áudio na animação para celular e o descuido com as peças gráficas, outros tipos de observações foram meras falhas de interpretação de alguns professores (visto que outros entenderam perfeitamente). Sinceramente, não acho que essas observações devam ser levadas em consideração pelo grupo que, ao meu ver, conseguiu passar a mensagem proposta.

Esse trabalho me engrandeceu muito. Como pessoa, universitária e futura profissional. Talvez pelo fato de ter sido a pessoa que mais leu e pesquisou sobre a vida e obra de Cravo Neto, por ter família baiana e por já ter tido contato com o candomblé, esse trabalho me tocou de forma única. Nunca olhei pras suas fotos com preconceito ou desdém, sempre me transmitiam uma paz diferente da qual a gente se esforça pra conseguir nos dias de hoje. Tentamos transmitir um pouco dessa paz também, com os traços delicados e toques coloridos das ilustrações do Luiz Guilherme, mas sem perder todo o mistério e força espiritual que possui a obra desse grande fotógrafo brasileiro.

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